Comparativo: Revanche ao som de Eco

Daniel Fideli / Leandro Alvares - fotos: Marcos Camargo

No filme "Rocky III", o personagem estrelado por Sylvester Stallone (Rocky Balboa) perde o título de campeão mundial de boxe para o forte e determinado Clubber Lang, mas pede revanche. Depois de treinar pesado, aprimorar suas técnicas e superar o medo imposto pelo rival, o protagonista vai para o ataque, luta bonito e recupera o cinturão.

Da arte para a vida automotiva, o Balboa da vez é o Ford EcoSport, que tombou diante do Renault Duster – lançado em outubro do ano passado – e deixou de ser o SUV pequeno mais vendido do Brasil. No comparativo feito à época, a então novidade desbancou o concorrente por sete pontos de diferença.

À la Rocky, o Eco foi se preparar. Renovou-se completamente, na estética e na mecânica, para tentar retomar a liderança do segmento.

                             

Tal como ocorreu no primeiro round, escalamos as versões top de linha com motor 1.6 flex dos dois jipinhos. O Duster neste perfil é o da opção Dynamique, que parte de R$ 54.030. Já o desafiante, que estreia nas concessionárias no fim deste mês, sobe no ringue com a série FreeStyle, tabelado a R$ 59.990.

Sim, o Ford continua mais caro que o parrudo utilitário-esportivo da Renault, mas desta vez está justificando essa diferença de preço não apenas nos critérios Conforto e Desempenho, mas também em muitos quesitos relacionados ao Bolso.

A estilosa segunda geração do EcoSport é, por exemplo, mais econômica que o beberrão Duster. Com o motor Sigma 1.6 16V de 115 cv, que substitui o antigo bloco 1.6 8V, o SUV feito sobre a base do New Fiesta faz médias de 6,7 km/l na cidade e 11,5 km/l na estrada. Já o Renault, também equipado com um propulsor 1.6 16V de 115 cv, roda 5,8 km/l e 8,7 km/l, respectivamente.

                             

Um dos motivos para o consumo elevado do Duster é a transmissão manual de cinco marchas, cujas relações são mais curtas que a caixa bem acertada do rival.

Outra boa surpresa preparada pelo modelo estreante e vencedor da Ford está nos preços das revisões. Até os 30.000 km, o proprietário de um novo EcoSport gastará R$ 828, enquanto que o dono de um Renault terá de desembolsar R$ 1.091 no mesmo período.

No pacote de peças, nova vantagem para o Eco, que cobra R$ 1.876 pela cesta básica de componentes. A do Duster sai por R$ 2 298. O kit de embreagem, para se ter uma ideia, foi cotado a R$ 270 para o Ford e R$ 592 para o SUV da marca francesa.

Este, por sua vez, continua mais vantajoso na desvalorização anual, de apenas 7,5% – a do EcoSport é estimada em 8% –, e nas cifras praticadas pelo seguro, embora não seja dos mais baratos. A melhor apólice saiu por R$ 2.030, contra R$ 2.141 da do Ford.

Mas quando o assunto é conforto, o EcoSport dá um baile no Duster. Na nova geração, o SUV da Ford ficou muito gostoso de dirigir e com ergonomia primorosa. Colaboram para isso os ajustes de altura e profundidade da coluna de direção, o volante de ótima empunhadura herdado do New Fiesta, o câmbio macio, a direção com assistência elétrica e as suspensões bem acertadas.

As do Renault são até um pouco melhores (firmes e com comportamento satisfatório até na terra). Nos demais aspectos deixam a desejar. Pela ausência de recursos como a regulagem de profundidade do volante, é difícil encontrar a posição ideal de guiar.

O Duster também peca no acabamento. Sua cabine é recheada de plástico e a diferença de tonalidade das partes do painel cria a sensação de que estamos em um modelo de qualidade inferior. Além disso, o posicionamento de alguns botões, como o de regulagem dos retrovisores (embaixo da alavanca de câmbio), dificultam a vida do motorista.

                             

O EcoSport, ao contrário, é atraente por dentro. Os grafismos dos mostradores são mais fáceis de ler, a disposição dos recursos é melhor e só ele oferece uma tela central com informações sobre o rádio, o Bluetooth e a câmera de ré — o sensor de estacionamento do Duster só alerta por aviso sonoro.

                             

O Renault, contudo, desbanca o rival na oferta de espaço. Embora na somatória das medidas internas o Eco ganhe por 4 cm, é no Duster que os ocupantes ficam mais bem acomodados no banco traseiro.

No porta-malas, a vantagem também é do líder de vendas, que oferece 475 litros contra 362 l do renovado concorrente.

Bem equipados, os dois trazem de série airbag duplo, ar-condicionado, freios com ABS, rodas de liga, entre outros elementos. O EcoSport, para justificar o preço mais alto, oferece assistente de partida em rampa, controle de estabilidade, sistema de comando de voz para rádio e Bluetooth, repetidores de seta nos retrovisores e airbags laterais e de cortina (opcionais).

Para o azar do Duster, seu arquirrival também é mais competente no desempenho. O Ford saiu na frente em todos os testes de aceleração, só ficando para trás na retomada de 60 a 120 km/h.

Da derrota ao aprendizado... Cabe ao Duster preparar-se para um terceiro round e ficar de olho como será o impacto nas vendas, pois o EcoSport voltou com tudo e quer, obviamente, retomar a liderança. Quem ganha com essa briga? Você! Então, que eles saiam mais vezes "no braço!"

                             

RENAULT DUSTER

BOM

+ Tem um preço bem competitivo e oferece bons itens de série.
+ A desvalorização anual é menor que a do EcoSport: apenas 7,5%.
+ O torque máximo de seu motor de 1.6 surge antes que o do Ford.
+ Tem melhor desenvoltura em situações fora de estrada. O rival é mais durão.

RUIM

- Por fatores como o câmbio curtinho, é "beberrão". Na cidade faz 5,8 km/l.
- A cesta básica de peças fi cou em R$ 2.298, valor R$ 422 superior ao do Eco.
- Em longos trajetos, os motoristas mais altos sofrem com a posição de dirigir.
- Perde para o Ford nas acelerações. De 0 a 100 km/h, a diferença é de 1s9.

FORD ECOSPORT

BOM

+ Está muito mais bonito que a geração antiga e que seu principal concorrente.
+ Traz itens não oferecidos pelo rival, como assistente de partida em rampa.
+ Suas peças de reposição e revisões até 30 000 km são mais baratas.
+ O câmbio manual é bem escalonado e as médias de consumo, animadoras.

RUIM

- Os belos LEDs, que funcionam como lanternas, poderiam ser luzes diurnas.
- Não há como instalar bancos de couro sem airbags laterais e de cortina.
- Seu seguro está mais caro. A melhor apólice foi cotada a R$ 2 141.
- Nesta versão tão bem equipada, o ar-condicionado digital faz falta.


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